terça-feira, 19 de junho de 2012

As muitas fomes


Imagem do Google

As imagens de infância são companheiras inseparáveis. Dependendo o momento, elas adquirem singular espaço na mente e no coração. Acredito que alguns fatos ocorridos em épocas distantes não envelhecem. A impressão é que aconteceram ontem ou minutos atrás. Quando estou à mesa, instantaneamente recordo que fomos orientados a não sobrar comida. O que era servido deveria ser consumido. Nem mesmo um grão de arroz podia restar no prato. Evidente que eram tempos marcados pela carência, embora o essencial nunca faltasse.
Dados recentes destacam que, na Europa e América do Norte, cada pessoa desperdiça anualmente entre 95 e 115 kg de alimento. Isso motivou o Parlamento Europeu a recomendar aos países membros da União Europeia a redução de 50% desse desperdício até 2025. Não é ético jogar fora alimentos, enquanto outros passam fome. Além disso, paira uma incerteza: até quando o planeta produzirá alimentos para serem desperdiçados?
Se não for por opção humanitária, que seja por carência. O certo é que o desperdício de alimentos está com os dias contados. Penso diariamente na possibilidade de reformulações legais para aproveitar o excedente de alimentos das cozinhas industriais, por exemplo. Quando houver boa vontade política e sensibilidade humana, reformulações acontecerão para beneficiar a todos.
O ser humano não tem apenas fome de alimento. Há outras fomes: de paz, amor, ternura, justiça, estética, espiritualidade, solidariedade... Num certo sentido, é eternamente insatisfeito e inquieto. Existir é saciar-se integralmente. Ao limitar-se na busca do pão de cada dia, perde a oportunidade de responder aos anseios mais profundos. Impossível viver feliz tendo apenas coisas materiais.
Quando me detenho a olhar a movimentação diária das pessoas, percebo que poucos estão qualificando adequadamente a vida. Há como um desespero em busca do ter mais, independente se o ser está equilibrado e feliz. A vida é grandiosa demais para se satisfazer apenas materialmente. Continuo não sobrando arroz no prato, mas busco a paz para qualificar meus dias e saciar outras fomes.


(Frei Jaime Bettega)

3 comentários:

  1. Que maravilha de mensagem.Verdadeira!!beijos,chica

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  2. Oi Bel!
    Que texto sensato e sábio. Hoje cada vez mais precisamos repensar nossas prioridades, fazer do ser algo mais primordial em nossa vida, repensar atitudes egoistas e pensar em/no conjunto.
    Beijinhos!

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  3. Odeio deixar comida no prato. E em self service tento colocar o que eu realmente vou comer. Muito feio comida sobrando no prato, ter que jogar fora alimento, não!
    Beijos
    Adriana

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